Por que dizemos que somos aquilo com o qual trabalhamos?
— Fale sobre você.
— Meu nome é Jeferson, eu sou pedreiro.
Provavelmente é por conta da importância do tempo sobre as nossas vidas. Se a maior ocupação (do tempo) de Jeferson está relacionada às suas atividades de pedreiro, ele assume “ser” um pedreiro. Se passasse a maior parte do tempo dormindo, ou cometendo pequenos delitos, poderia dizer “sou um vagabundo”.
Essa lógica, que vale para Jeferson, também já me definiu: por muitos anos fui músico e, há alguns anos, sou uma espécie de burocrata da iniciativa privada. A troca não foi por dinheiro. Hoje, ocupando cargo de gestão em uma empresa, ganho menos dinheiro do que quando fazia muitos shows e tinha um estúdio de gravação. Mas, apesar de ganhar menos e ter uma rotina desprovida de glamour, sou mais feliz.
Não acho que músicos sejam felizes, nem os famosos. Não acho que sejam mais felizes do que corretores de seguro, gerentes de banco, vendedores. O romantismo em torno de algumas atividades (notadamente as ligadas a arte) mascara a realidade. Um ator enfrenta os mesmos dilemas fundamentais de um estivador: monotonia, cansaço, colegas insuportavelmente chatos. E o estivador, cuja ocupação parece distante de qualquer ideia de realização pessoal, pode encontrar na rotina simples o que um músico muitas vezes perde: a ligação direta entre o esforço físico e o resultado tangível do seu trabalho. Sente o peso do que carrega e vê o resultado imediato da sua força.
No final, todos estamos em busca de significado, preenchendo o tempo até que o tempo nos preencha de vez.
Obrigado.
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